segunda-feira, dezembro 10, 2007

O drama do desemprego


O Natal aproxima-se e a Psicasténica não pode ficar alheia às questões sociais numa altura que nos toca tanto no coração como no fígado ou não fosse eu estar rodeado de filhós e caipirinhas. O desemprego é um flagelo que infelizmente atinge cada vez mais portugueses e cada vez menos brasileiras no nosso país. A Psicasténica relata o drama na primeira pessoa. Não, a Psicasténica não está desempregada, mas se vocês são suficientemente imbecis para acreditar que a Psicasténica fala e é gente e pode ter emprego, mereciam todos que vos escavacassem a espinha depois de vos cortarem a dose diária de clorofórmio. A Psicasténica é informação, é deformação, é questão social, é Natal, é homem na Lua, é Manuel Subtil, Salazar e Álvaro Cunhal e eventualmente Valentina Torres. Hoje vai ser Fátima Lopes depois de ter escolhido na zona portuária de Setúbal um desempregado ao acaso, com barba de três dias e sobretudo coçado. O seu nome é José Mário dos Santos Félix Mourinho. Zé Mário é como gosta de ser tratado pelos amigos. É um homem simples e leva uma vida dedicada à faina do futebol. “Isto é de família…sabem como é…padrinho presidente do Vitória de Setúbal, pai antigo guarda-redes e treinador da bola, era difícil de escapar. É uma vida dura, mas é com gosto que se faz”. Com gosto, diz-nos Zé Mário, até que o desemprego lhe bateu à porta. “Cá temos que andar e o que vale é que tenho um pé-de-meia do fundo de desemprego do Abramovich…deve dar para passar o Inverno…”. Lembra com saudade os tempos de moço de recados no Sporting, o negócio caseiro no U. Leiria e os biscates no Benfica e no F.C. Porto. “Era um garoto…ainda não sabia da vida, mas depois…”. Pois foi…depois foi obrigado a emigrar e a tentar as péssimas condições não da Albânia, não do Cazaquistão ou de terras de África, mas de Inglaterra. “Já tinha estado em Espanha, mas isso é já aqui ao lado, não era a mesma coisa”. As pessoas até gostavam de Zé Mário e até lhe chamaram um dia The Special One, coisa que deixa um sorriso em Zé Mário. “Bons tempos”, recorda com um sorriso. Depois foi o costume: desavenças com o patrão e sempre o pobre operariado a pagar. Ainda foi convidado a treinar lá o sindicato (Selecção de Inglaterra), mas as condições oferecidas “não davam para comer, nem para os sobretudos Armani, relógios Rolex e outros bens de primeira necessidade para mim e para a família. Se calhar tenho que me fazer à estrada…sei lá para onde…Itália…” (aqui Zé Mário solta uma lágrima e a Psicasténica não insiste). Agradecemos e desejamos-lhe sorte o que ainda lhe vale um gracejo: “Sorte? Sorte precisam aqueles que se atravessarem à minha frente porque depois de me enfrentarem vão perguntar atordoados qual era a matrícula do camião que os passou a ferro!”.


SUB-LODO

13 comentários:

Menina Pequenina disse...

Em vez de Fátima Lopes porque não Júlia Pinheiro? :p

Anónimo disse...

Este artigo est� repleto de ensinamentos. Primeiro: � de louvar haver quem d� voz aos desempregados, porque os sindicatos s� d�o voz aos trabalhadores. Os patr�es n�o t�m nada para dizer, e os desempregados s�o uns escorra�ados equiparados aos leprosos de antigamente. Ningu�m os defende por medo de cont�gio. H� que saber porque o desemprego acontece e como se propaga. como a sida. H� que informar. E este artigo explica. Acontece porque se v� alto e bom som que este senhor tem muito mau feitio. E isso aborrece os patr�es. H� que ser manso. E o senhor Z� M�rio, estando a usufruir do seu direito ao subsidio de desemprego, n�o poder� ausentar-se do pa�s, por isso � natural que n�o v� levianamente para o estrangeiro. Segundo: � digno de nota que na novela do colun�vel nunca se sabe o que acontece depois do epis�dio da sempre v� gl�ria dos astros do desporto-rei. Por isso, � bom que se conhe�a o antes e o depois, para se reconhecer que h� este outro lado do vedetismo, sem glamour nenhum. N�o queirais ser vedetas, a n�o ser que seja da realeza, e num pa�s onde n�o estejam a pensar t�o cedo abolir essa nobre institui�o. Tirando esse sector de actividade, por�m, que aproveite o ensinamento: Ignorai os ramos de actividade dos vossos ancestrais. Estudai e ide para a Faculdade para que possais vir a ser desempregados com letrinhas antes das letrinhas de vosso nome pr�prio. Terceiro: � de real�ar o estilo humanista da entrevista. Porque o entrevistador mostrou compaix�o pelo seu semelhante, respeito pelos sentimentos do entrevistado, empatia e assertividade. � motivo de orgulho para a classe e um marco na evolu�o da comunica�o social nacional. Quarto: Se a indemniza�o paga pelo ex-patr�o do Z� M�rio tivesse sido mais do que um ordenado e meio por cada ano de trabalho, o valor teria de ser deduzido de IRS, o que decerto seria cumprido, como tal, estaria a contribuir para o Estado de todos n�s cidad�os. aproveit�vamos todos. Mas se como se deduz das afirma�es feitas, foi magra. Logo, h� que suspeitar que o ex-empregador tenha usado de m� f� no desemprego desse senhor, n�o cumprindo com as suas obriga�es. Fora eu advogada, saltaria em salvaguarda dos direitos do Z� M�rio, se bem que, como j� assinou, pouco resta a fazer... - o que � outro ensinamento: quando forem despedidos, nunca assinem sem falar com um advogado. Se disserem que n�o saem dali sem assinar, esperem pelo fim do hor�rio de trabalho e liguem � pol�cia a explicar que est�o a ser sequestrados. V�o ver que s�o logo promovidos. Mas sempre mansos. Sobretudo isso. Sempre mansos. Mais de resto n�o me lembra mais nada para dizer. Quando estava desempregada era muito mais produtiva, a minha imagina�o...Ah, que a emigra�o tamb�m j� n�o � o que era. Ele anda a assentar tijolo para a casa nova? N�o. P�s ajulejo na que j� tinha? N�o. Trouxe algum carro de matr�cula estrangeira? N�o. Nem sotaque ele trouxe...E s� mais uma coisa: ele afinal � ou n�o � maricas???

Capitão_Vegetal disse...

a vida é injusta!

Sub-Lodo disse...

Fantástico: uma anónima e um Chandeleir que partilham uma mesma visão e se exprimem de maneiras tão diferentes. É bom saber que Psicasténica é diversidade.

Rafeiro Perfumado disse...

Sub-lodo, e poruqe não avançares com um peditório em prol do Mourinho? Só para garantir que não lhe falta o bacalhau na consoada, tadinho...

Anónimo disse...

Tens queda para comentador desportivo!
A envergadura de um Pivot. Ou isso ou porta-chaves. Qual preferes?
Não me identifico porque o meu nome é extenso e tenho de trabalhar para sustentar a mulher e os filhos . ;)

Sara disse...

Vais-me matar (da mesma maneira que o querias fazer no Pictionary, lol), mas eu continuo a achar que a psica está no corredor da morte.

Sub-Lodo disse...

Sarinha: já que estamos no Inferno, não custa dar um aperto de mão ao Diabo! No corredor da morte estejamos! Psicasténica é enfrentar a morte de frente! Psicasténica é degredo!

Maria Strüder disse...

Que bonito =)
Já estou a ver o nosso Zé Mário ao lado do Homem do Rossio a cantarolar cânticos natalícios em troca da moedinha para o vinho de mesa comprado no Minipreço para aquecer o corpo nas noites geladas da baixa Lisboeta.

Tiago disse...

Comentário do Socolari:

e o burro sou eu?? o ruim sou eu??

Sub-Lodo disse...

Nnnnnnnhhaannnnnnnna...nnnnnnnnnnnhhhhhhhhhhhaaaaaaaannnnnaannnnnn... (abanem todos a cabeça).

PeixeBoga disse...

Provavelmente, o melhor que foca a temática de Natal que terei lido. Provavelmente terá sido o único a focar esta particular quadra,mas nonetheless. E é sempre reconforte saber que temos o desempregado mais milionário do mundo. Dizem por aí que o país tá em crise. Não sabem o que dizem. Desemprego é o que tá a dar,woooo hooooo. É Natal,Natal,já nasceu Jesus...la la la la la la

Anónimo disse...

a genialidade nao se apaga com o tempo e Sub-Lodo arranja sempre maneira de ser o maximo e como F.O.D.A.S.nao se apaga sugere ao mourinho que venda o corpo